CASAMENTO DE JEFF BEZOS EM VENEZA EXPÕE CRISE
ENTRE TURISMO DE LUXO E DESGASTE URBANO
O casamento bilionário de Jeff Bezos em Veneza, com celebrações luxuosas ao longo de vários dias, reacendeu o debate sobre os impactos do turismo elitista. Enquanto autoridades prometem benefÃcios econômicos, moradores denunciam o agravamento da crise urbana e a exclusão social.
Entre riqueza e desgaste: o contraste do turismo de luxo em Veneza
Veneza, uma das cidades mais icônicas do mundo, tornou-se palco para o casamento de Jeff Bezos e Lauren Sánchez, celebrado com pompa e exclusividade ao longo de uma semana. Iates ancorados, segurança reforçada, festas em palácios e jantares privativos dominaram a paisagem veneziana. Autoridades locais, incluindo o prefeito Luigi Brugnaro, defenderam o evento como “uma oportunidade de ouro” para projetar a cidade globalmente e atrair investimentos.
Contudo, a realidade enfrentada por muitos venezianos é bem diferente. Para moradores como Marco Bellini, artesão do bairro de Cannaregio, o evento é apenas “mais um sÃmbolo de uma cidade que virou parque temático para milionários”. De acordo com dados da Università Ca’ Foscari, Veneza perde em média mil habitantes por ano, fruto da especulação imobiliária e da gentrificação impulsionada pelo turismo de luxo.
Especialistas como a urbanista italiana Maria Rosaria Marino alertam que a cidade está “à beira de um colapso social e ambiental”. Além da superlotação crónica, Veneza enfrenta problemas com erosão das fundações, descaracterização cultural e exclusão da população de baixa renda dos centros históricos.
O abismo entre o glamour e a cidade real
Enquanto os salões do Palazzo Ducale recebiam celebridades e magnatas do Vale do SilÃcio, os moradores comuns enfrentavam interrupções no transporte, bloqueios de acesso e elevação de preços nos arredores dos eventos. A crÃtica mais recorrente é que os lucros gerados por esse tipo de turismo não chegam à população local.
Organizações comunitárias como a Associazione Venezia Autentica denunciam que os pequenos negócios não são beneficiados e que grandes marcas e grupos internacionais monopolizam os ganhos. Em protesto, venezianos colocaram faixas nas sacadas com frases como “Veneza não está à venda” e “Queremos viver aqui, não sobreviver aos ricos”.
O casamento de Bezos tornou-se, assim, o sÃmbolo de uma fratura profunda: de um lado, a cidade vitrine para o mundo; do outro, uma população cada vez mais invisÃvel. Em relatório recente da UNESCO, foi reiterada a preocupação com o risco de Veneza se tornar uma “cidade fantasma”, onde residem apenas turistas temporários e serviços terceirizados.
O debate vai além do casal bilionário. Coloca em xeque o modelo turÃstico adotado por Veneza e outras cidades históricas europeias — um modelo centrado no lucro imediato, mas insustentável a longo prazo para os que ali vivem.