A Parceria Estratégica Brasil-China na Nova Economia Global
Desde 2009, a China consolidou-se como o maior parceiro comercial do Brasil, e a natureza dessa relação bilateral tem evoluído de forma notável. Inicialmente focada na troca de commodities por produtos manufaturados, a parceria agora se diversifica para incluir investimentos diretos e financiamentos em setores de maior valor agregado. Essa mudança para áreas como inteligência artificial, energias renováveis e agricultura sustentável não é acidental; ela reflete uma maturação da colaboração sino-brasileira, indicando um compromisso de longo prazo que vai além das transações comerciais pontuais.
A transição
para setores de maior valor agregado, como a inteligência artificial, as
energias renováveis e a agricultura sustentável , demonstra uma busca por
co-desenvolvimento e integração em cadeias de valor globais. Essa evolução
sugere que o Brasil está se posicionando para industrializar seu vasto
potencial verde com o capital e o
know-how chinês, visando uma maior autonomia
produtiva e tecnológica. Essa narrativa de "parceria estratégica" e
"co-desenvolvimento" é de grande interesse para líderes de
pensamento, investidores e formuladores de políticas, elevando o valor
intrínseco do conteúdo e, por consequência, o potencial de monetização. A
convergência de interesses em torno da economia verde não é apenas econômica,
mas também geopolítica, posicionando ambos os países como atores-chave na
construção de um futuro global mais sustentável.
Panorama dos Investimentos Chineses no Brasil:
Crescimento e Foco na Economia Verde
Dados Históricos e Projeções Futuras
Os
investimentos chineses no Brasil têm demonstrado um crescimento contínuo, com
um foco cada vez mais acentuado na economia verde. Em 2023, os aportes chineses
atingiram US$ 1,73 bilhão, representando um aumento de 33% em relação ao ano
anterior. Embora este valor seja o segundo mais baixo desde 2009, superando
apenas o resultado de 2022, a qualidade desses investimentos tem se aprimorado,
com uma forte inclinação para as "novas infraestruturas".
O estoque
acumulado de Investimento Estrangeiro Direto (IED) da China no Brasil alcançou
a marca de US$ 53,6 bilhões em 2023, um crescimento expressivo de 44,3% em
comparação com 2022. Este volume posiciona a China como o 9º maior investidor
no Brasil, conforme dados oficiais do Banco Central do Brasil. Projeções para
2025 indicam um influxo adicional de R$ 27 bilhões (aproximadamente US$ 4,76
bilhões) em novos investimentos chineses, com compromissos específicos de
grandes empresas em diversos setores. Entre 2015 e 2025, foram anunciados 163
projetos
greenfield com capital chinês no Brasil,
totalizando US$ 12,9 bilhões e com potencial para gerar mais de 35.700
empregos.
A aparente
discrepância entre um valor de investimento anual menor em 2023 e um estoque de
IED recorde, juntamente com projeções elevadas para 2025, sugere uma evolução
na estratégia de investimento, em vez de um declínio no interesse. Essa
dinâmica indica uma transição de grandes projetos isolados para um portfólio
mais diversificado de investimentos greenfield em setores verdes
estratégicos e de alto valor. Essa abordagem mais granular e focada em
"novas infraestruturas" e projetos
greenfield alinha-se com os objetivos
estratégicos de longo prazo da China em sustentabilidade. A análise deve,
portanto, ir além dos números brutos, explorando a intenção estratégica e as
mudanças setoriais para oferecer uma perspectiva mais sofisticada.
Setores Chave
Um aspecto
notável dos investimentos chineses em 2023 foi a alocação de 72% do total para
projetos de energias verdes e setores adjacentes, como mobilidade elétrica e
infraestrutura sustentável. Esse percentual representa o maior já registrado
desde o início da série histórica do CEBC em 2007, evidenciando o compromisso
da China com a sustentabilidade e a inovação tecnológica no exterior. Os
principais setores que atraem investimentos
greenfield são energia, infraestrutura e
indústria automotiva. Outras áreas de destaque incluem infraestrutura digital,
data centers, inteligência artificial (IA),
minerais críticos e agricultura sustentável.
A
concentração de investimentos em energia, infraestrutura e automotiva, com
forte ênfase em energias renováveis e mobilidade elétrica , indica uma
estratégia chinesa para alavancar os vastos recursos naturais do Brasil (como
biomassa e minerais críticos). O objetivo é construir cadeias de suprimentos
verdes globais e expandir sua expertise em tecnologia e manufatura verde. Essa
abordagem não se limita apenas ao retorno financeiro, mas também visa assegurar
insumos para as indústrias verdes chinesas, ampliar sua participação no mercado
global de tecnologias sustentáveis e potencialmente mitigar riscos em suas
cadeias de suprimentos devido a tensões geopolíticas. Isso configura uma
movimentação estratégica para estabelecer um ecossistema industrial verde
global, com o Brasil desempenhando um papel central.
A Tabela 1
detalha os investimentos chineses anunciados no Brasil, destacando os setores,
empresas, valores e o potencial de geração de empregos. Esta consolidação de
dados é fundamental para identificar tendências e oportunidades de conteúdo
digital de alto valor, fornecendo informações precisas para palavras-chave de
nicho e atraindo anunciantes relevantes.
Tabela 1:
Investimentos Chineses Anunciados no Brasil por Setor Chave (2023-2025)
Setor
Chave |
Empresas/Entidades
Chaves |
Valor do
Investimento (R$/US$) |
Tipo de
Investimento |
Potencial
de Empregos |
Energia
Renovável |
CGN,
Envision, Windey Energy Technology Group, Senai Cimatec |
R$ 3 bi
(CGN), R$ 5 bi (Envision), US$ 1 bi (SAF Envision) |
Greenfield,
Parque Industrial Net-Zero, Centro P&D |
>5.000
(CGN) |
Mobilidade
Elétrica |
BYD, GWM,
DiDi |
R$ 6 bi
(GWM), R$ 10 bi (GWM em 1 década), 10.000 pontos de recarga (DiDi) |
Expansão
de Operações, Fábricas, Infraestrutura de Recarga |
- |
Agricultura
Sustentável |
MDA-MARA,
COFCO International, REAG Capital Holding, CITIC Construction |
R$ 27 bi
(cooperação agricultura familiar) |
Acordo de
Cooperação, Joint Venture, Cadeia de Valor Verde |
- |
Infraestrutura
Digital e IA |
Dataprev,
Huawei (Sparkoo), Telebras, Spacesail, ByteDance (TikTok) |
US$ 4.76
bi (total anunciado por Lula), 300 MW data center (ByteDance) |
Parceria
Tecnológica, Centro P&D, Infraestrutura de Dados |
- |
Minerais
Críticos |
Baiyin
Nonferrous Group |
R$ 2.4 bi
(Mina de Cobre Serrote) |
Aquisição
de Mina, Refino |
- |
Outros
(Semicondutores, IFAs) |
Longsys
(Zilia), Nortec Química, Acebright, Aurisco, Goto Biopharm |
R$ 650 mi
(Longsys), R$ 350 mi (Nortec) |
Expansão
Produtiva, Parceria Industrial |
- |
Total
Projetado para 2025 |
Diversas |
R$ 27
bilhões |
Diversos |
~160.700
(diretos e indiretos) |
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Nota: Os
valores de emprego são potenciais e podem variar. O total de empregos inclui
35.700 de projetos greenfield, 100.000 indiretos e 3-4k diretos da Meituan, e
25.000 da Mixue. A Mixue e Meituan estão incluídas no total de R$27 bilhões,
mas não são exclusivamente "verdes".
Projetos e Iniciativas de Destaque: Impulsionando a
Transição Ecológica
A parceria
entre Brasil e China na economia verde se materializa em uma série de projetos
e iniciativas concretas que impulsionam a transição ecológica brasileira. Esses
empreendimentos demonstram uma mudança estratégica de investimentos genéricos
para projetos de alto impacto, que atendem tanto às necessidades de
desenvolvimento do Brasil quanto à agenda global de sustentabilidade da China.
Casos de Sucesso em Energia e Mobilidade
No setor de
energias renováveis, a empresa estatal chinesa CGN planeja investir mais
de R$ 3 bilhões em um hub de energia no Piauí. Este complexo, com uma
capacidade instalada total de 1.4 GW, focará na geração de energia eólica,
solar, armazenamento e termosolar, com a expectativa de criar mais de 5.000
empregos durante a fase de construção. Outro exemplo notável é a
Envision, líder global em tecnologia verde,
que investirá até R$ 5 bilhões para construir o primeiro Parque Industrial
Net-Zero da América Latina no Brasil. Este parque será um ecossistema verde
dedicado à produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF), hidrogênio
verde e amônia verde, aproveitando a abundante biomassa e eletricidade
renovável do Brasil, o que o posiciona como um "centro de produção de óleo
verde" crucial.
No segmento
de mobilidade elétrica, a montadora chinesa BYD tem expandido
significativamente sua presença no Brasil, operando sete fábricas e iniciando a
construção de sua maior planta fora da Ásia em Camaçari, Bahia. Em 2024, a BYD
vendeu mais de 76.000 veículos elétricos no Brasil, dominando 70% do mercado de
veículos elétricos e 25% das vendas de híbridos. A empresa também está
investindo em soluções de baterias e carregadores ultrarrápidos para veículos
elétricos. Complementando essa infraestrutura, a
DiDi, controladora do aplicativo 99
táxi, anunciou planos para instalar 10.000 pontos públicos de recarga,
promovendo a eletrificação da frota de veículos no país. Esses projetos não são
apenas financeiros; eles envolvem significativa transferência de tecnologia e
geração de empregos locais, fomentando uma relação econômica mais integrada.
Avanços na Agricultura Sustentável e Biotecnologia
A cooperação
na agricultura sustentável é outro pilar da parceria. Em maio de 2025, Brasil e
China assinaram um Memorando de Entendimento (2025-2030) para a mecanização e
tecnificação da agricultura familiar, com um investimento de R$ 27 bilhões.
Este acordo prevê a importação de máquinas agrícolas, a implementação de
energia renovável e o desenvolvimento de plataformas digitais, além de apoio
técnico chinês. Em contrapartida, o Brasil promoverá joint ventures para
a fabricação local de equipamentos e a transferência de tecnologia
agroindustrial.
A COFCO
Corporation, uma das maiores comercializadoras de alimentos da China,
lidera a promoção da soja livre de desmatamento e conversão (DCF) do Brasil
para a China. A empresa implementou um sistema de rastreabilidade da soja e
oferece treinamento a agricultores locais para garantir práticas sustentáveis.
Um acordo facilitado pela Tropical Forest Alliance resultou na entrega de 1,5
milhão de toneladas de soja sustentável certificada. O Brasil, com sua
liderança global no melhoramento genético de cultivares tropicais (como soja,
milho e cana-de-açúcar) e sementes transgênicas, oferece oportunidades substanciais
para pesquisa conjunta e licenciamento de biotecnologias com a China.
Cooperação em Tecnologia e Inovação
A
colaboração em tecnologia e inovação abrange diversas frentes. Acordos foram
firmados para fortalecer a cooperação em Inteligência Artificial (IA) entre o
Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) do Brasil
e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC) da China. Há também
uma cooperação técnica entre a Dataprev e a Sparkoo (subsidiária da Huawei)
para construir uma infraestrutura nacional de dados de IA. Um Centro de
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em IA para aplicações em agricultura,
saúde, segurança pública e mobilidade está planejado.
A parceria
entre a Telebras e a Spacesail visa expandir a oferta de satélites de baixa
órbita e o acesso à internet no Brasil. O projeto
China-Brazil
Earth Resource Satellite (CBERS) é uma ferramenta vital para o monitoramento ambiental
e a resposta a desastres no Brasil, rastreando taxas de desmatamento na
Amazônia em tempo quase real e fornecendo dados cruciais para políticas
ambientais. Este projeto é reconhecido como um modelo de "cooperação
Sul-Sul". Além disso, investimentos em cidades inteligentes estão
surgindo, com o projeto "Rio AI City" no Rio de Janeiro, que busca
transformar o Parque Olímpico no maior
hub de processamento de dados da
América Latina, alimentado por energia limpa.
A análise
desses projetos detalhados revela uma estratégia chinesa deliberada para
assegurar recursos e capacidade de produção de energia verde (como SAF, H2 e
NH3 verdes a partir de biomassa), expandir sua participação no mercado global
de tecnologias sustentáveis (veículos elétricos, infraestrutura de recarga) e
aprimorar a segurança alimentar por meio de cadeias de suprimentos
sustentáveis. A utilização de sua expertise tecnológica em IA e satélites para
benefício mútuo e influência também é evidente. A ênfase na criação de empregos
locais e na transferência de tecnologia demonstra um compromisso de longo prazo
com a integração local, o que pode mitigar alguns dos riscos de dependência ao
fomentar o desenvolvimento industrial interno.
Contudo, é
importante notar que, embora o projeto CBERS seja um sucesso no monitoramento
ambiental , a demanda chinesa por
commodities (soja, minerais) e o
desenvolvimento de infraestrutura para transporte continuam a exercer pressão
sobre os ecossistemas brasileiros, resultando em desmatamento na Amazônia e no
Cerrado. Isso revela uma complexidade na relação: a China é tanto um parceiro em
soluções verdes quanto um contribuinte para desafios ambientais. A
transparência e uma perspectiva crítica são essenciais para a credibilidade do
conteúdo, atraindo um público mais exigente e anunciantes com foco em critérios
ESG (Ambiental, Social e Governança).
Políticas e Mecanismos de Incentivo: Facilitando o
Capital Verde
O Brasil tem
desenvolvido ativamente um ecossistema institucional e financeiro robusto para
atrair e desonerar investimentos verdes estrangeiros. Esses mecanismos são
respostas diretas a barreiras históricas, como a volatilidade cambial e a falta
de soluções de longo prazo, buscando padronizar e legitimar os fluxos de
finanças verdes.
Programas Governamentais Brasileiros
O governo
brasileiro lançou o programa "Eco Invest Brasil" como parte de seu
Plano de Transformação Ecológica. O objetivo é impulsionar investimentos verdes
e atrair capital estrangeiro, oferecendo proteção cambial para mitigar os
riscos da volatilidade do câmbio em projetos de longo prazo. O programa
facilita a captação de recursos no exterior por meio do mercado de capitais e
apoia o desenvolvimento de um mercado brasileiro de proteção cambial de longo
prazo. Ele também oferece linhas de crédito com custo competitivo para projetos
alinhados à transformação ecológica que utilizam recursos estrangeiros. Os
setores beneficiados incluem transição energética (biocombustíveis,
renováveis), bioeconomia (recuperação de pastagens, agricultura sustentável),
economia circular (saneamento, logística reversa) e infraestrutura
verde/adaptação. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) atua como intermediário
crucial para o seguro cambial, e o Banco Central do Brasil (BC) faz a ponte
entre o seguro e os investidores. O Ministério da Fazenda, por sua vez, oferece
uma linha de liquidez especial para grandes projetos sustentáveis.
Adicionalmente,
o Brasil está implementando uma "Janela Única de Investimentos" para
simplificar e agilizar a entrada de capital estrangeiro, visando aumentar a
competitividade do país. Essas políticas são desenhadas para mitigar riscos,
proporcionar previsibilidade e criar uma "via verde" clara para os
investidores, alinhando-se com o crescente foco da China em investimentos
sustentáveis.
Acordos Bilaterais e Fundos de Cooperação
A cooperação
financeira bilateral é um pilar central. O Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) e o China Development Bank (CDB) assinaram um acordo
para captação de até US$ 1,3 bilhão, com US$ 800 milhões destinados a projetos
verdes de longo prazo (infraestrutura, energia, agricultura, agenda ASG,
mudança climática, economia digital) e US$ 500 milhões para financiamento de
comércio bilateral de curto prazo. Além disso, o BNDES e o Export-Import Bank
of China (CEXIM) estão estudando a criação de um fundo de investimento com meta
de até US$ 1 bilhão para aprofundar as oportunidades de investimento.
O People's
Bank of China (PBOC) e o Banco Central do Brasil (BCB) assinaram um Memorando
de Entendimento (MoU) sobre Cooperação Financeira Estratégica e renovaram um
acordo bilateral de swap de moeda local (RMB190 bilhões/BRL157 bilhões).
O objetivo é apoiar o uso de moedas locais, facilitar o comércio e o
investimento bilateral, e manter a estabilidade do mercado financeiro. Um Fundo
de Cooperação para Expansão da Capacidade Produtiva para o Desenvolvimento
Sustentável entre os dois países foi reativado, com foco no financiamento de
projetos de economia verde.
O Papel da COP30 e da Taxonomia Sustentável
O Brasil se
prepara para sediar a COP30 em Belém, Pará, em novembro de 2025, com a ambição
de se tornar uma referência global em soluções climáticas e atrair
investimentos privados significativos. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
do Brasil, em um passo pioneiro, tornou-se o primeiro regulador de mercado de
capitais no mundo a adotar oficialmente os padrões internacionais de reporte de
sustentabilidade do ISSB (International Sustainability Standards Board). Essa
medida visa desbloquear o capital privado através de maior transparência e
comparabilidade entre as empresas.
Uma
taxonomia sustentável brasileira está em desenvolvimento, com a primeira versão
prevista para agosto de 2025 e implementação antes da COP30. Essa taxonomia
classificará atividades econômicas com base em critérios ambientais, sociais e
de governança (ESG), facilitando a criação de um "selo verde" para
direcionar recursos a projetos sustentáveis. A COP30 atua como um catalisador
crucial, acelerando essas iniciativas de finanças verdes e servindo como uma
plataforma para o Brasil demonstrar sua prontidão e compromisso em atrair
capital verde, consolidando um legado de implementação.
A Tabela 2
apresenta os principais acordos bilaterais e iniciativas de cooperação entre
Brasil e China na economia verde, ilustrando o arcabouço institucional que
sustenta esses investimentos.
Tabela 2:
Principais Acordos Bilaterais e Iniciativas de Cooperação Brasil-China na
Economia Verde
Acordo/Iniciativa |
Objetivo
Principal |
Entidades
Envolvidas |
Valores/Prazos
(se aplicável) |
Eco Invest
Brasil |
Impulsionar
investimentos verdes e atrair capital estrangeiro com proteção cambial. |
Governo
Brasileiro (MF, BC), BID |
Linhas de
crédito competitivas |
Acordo
BNDES-CDB |
Financiamento
de projetos de longo prazo em infraestrutura, energia, agricultura, ASG,
economia digital. |
BNDES,
China Development Bank (CDB) |
Até US$
1,3 bilhão (US$ 800 mi longo prazo) |
Acordo
BNDES-CEXIM |
Estabelecer
fundo de investimento para oportunidades no Brasil e China. |
BNDES,
Export-Import Bank of China (CEXIM) |
Fundo alvo
de até US$ 1 bilhão |
MoU
PBOC-BCB |
Fortalecer
cooperação financeira estratégica, promover uso de moedas locais e
estabilidade financeira. |
People's
Bank of China (PBOC), Banco Central do Brasil (BCB) |
Swap
RMB190 bi/BRL157 bi (5 anos) |
Fundo de
Cooperação para Desenvolvimento Sustentável |
Financiar
projetos da economia verde e infraestrutura digital. |
BNDES,
China-LAC Industrial Cooperation Investment Fund (ClaiFund) |
R$ 7,6 bi
(R$ 4 bi economia verde) |
MoU
Agricultura Familiar (2025-2030) |
Cooperação
em mecanização e tecnificação da agricultura familiar. |
MDA
(Brasil), MARA (China) |
R$ 27
bilhões |
Acordos
MMA-NFGA |
Cooperação
em restauração de vegetação e sumidouros de carbono. |
MMA
(Brasil), NFGA (China) |
Meta de
restaurar 12 milhões ha até 2030 |
Acordos
MDIC-NDRC |
Fortalecer
cooperação em IA e economia digital. |
MDIC
(Brasil), NDRC (China) |
- |
Acordos
MME-NEA |
Estudar
desenvolvimento sustentável da mineração, energia nuclear e biocombustíveis. |
MME
(Brasil), NEA (China) |
- |
CVM
Taxonomia Sustentável / ISSB |
Desbloquear
capital privado com transparência e comparabilidade para projetos
sustentáveis. |
CVM
(Brasil) |
Taxonomia
prevista para Ago/2025, ISSB a partir de 2026 |
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Desafios e
Oportunidades para o Brasil
Apesar do
otimismo em torno dos investimentos chineses na economia verde brasileira, é
fundamental analisar os desafios e riscos inerentes a essa parceria, bem como
as oportunidades estratégicas que se apresentam.
Riscos de Dependência e Volatilidade Financeira
Especialistas
alertam para os riscos de o Brasil se tornar excessivamente dependente dos
investimentos chineses. Em um cenário global instável, decisões políticas e
econômicas internacionais podem impactar diretamente o Brasil. A atual
dependência da demanda chinesa por
commodities essenciais, como minério de ferro,
metais básicos e soja, cria uma vulnerabilidade a desacelerações econômicas na
China ou a mudanças em seus padrões de demanda. Além disso, a potencial
volatilidade do mercado financeiro chinês pode afetar diretamente os preços das
commodities e, consequentemente, as receitas de
exportação do Brasil. Historicamente, os investimentos chineses no Brasil
mostraram-se sensíveis a choques externos, com uma queda de 74% em 2020,
associada a uma recessão global.
Impactos Socioambientais e a Busca por
Sustentabilidade
Investimentos
chineses na América Latina, incluindo o Brasil, foram associados a um aumento
de conflitos sociais e ambientais. Isso é particularmente evidente no
desmatamento da Amazônia e do Cerrado, impulsionado pela demanda por soja e
pela construção de infraestruturas (estradas, ferrovias) para o transporte de
commodities. As exportações da América Latina
para a China utilizam o dobro da quantidade de água em comparação com o total
das exportações e tendem a gerar menos empregos por dólar, o que pode levar a
conflitos por recursos hídricos e à diminuição dos benefícios de emprego local.
Uma
preocupação específica reside no impacto ambiental da importação de tecnologias
"verdes": as importações brasileiras de painéis solares chineses em
2024 resultaram na emissão de 4 milhões de toneladas de CO2. Isso se deve à
matriz elétrica chinesa, 17 vezes mais poluente que a brasileira na produção de
silício, revelando um custo ambiental "oculto" dessas importações.
Essa tensão entre a natureza "verde" dos novos investimentos chineses
e os impactos ambientais e sociais históricos e contínuos do comércio de
commodities representa um desafio crítico para
o Brasil. Não se trata apenas de atrair capital, mas de garantir um
desenvolvimento sustentável e equitativo.
Apesar
desses desafios, há indícios de que empresas chinesas estão dispostas a cumprir
padrões ambientais mais rigorosos se os governos anfitriões os impuserem, como
demonstrado pelo caso da Chinalco no Peru. Além disso, Brasil e China cooperam
ativamente na restauração de vegetação e sumidouros de carbono por meio de
acordos bilaterais. A ênfase na transferência de tecnologia e produção local é
fundamental para mitigar os impactos negativos e capturar mais valor.
Potencial para Diversificação e Geração de Valor
Agregado
O Brasil
enfrenta a necessidade premente de diversificar suas exportações para além das commodities
brutas e aumentar o componente de valor agregado de seus produtos destinados à
China. A ApexBrasil identificou quase 400 oportunidades para expandir as
exportações brasileiras para além dos bens tradicionais.
A estratégia
de "powershoring" oferece uma oportunidade única para o Brasil
produzir bens intensivos em energia utilizando sua matriz energética limpa,
elevando-o na cadeia de valor global de fornecedor de matéria-prima para
produtor de bens manufaturados verdes. A cooperação estratégica em campos
avançados como Inteligência Artificial, fabricação de veículos elétricos,
produção de baterias e biotecnologia pode impulsionar significativamente a
industrialização e diversificação da economia brasileira, reduzindo sua
dependência histórica de exportações do setor primário. A combinação das
vantagens naturais "verdes" do Brasil com a expertise chinesa em
manufatura e tecnologia cria um caminho para uma "reindustrialização
verde", visando exportações de maior valor agregado e superando o desafio
da reprimarização da pauta exportadora.