🇫🇷 Casal Macron Processa Candace Owens por Conspiração e Difamação: Caso Pode Fazer História
Casal presidencial
francês reage judicialmente a campanha de desinformação promovida por
influenciadora americana com vídeos conspiratórios
Paris/Washington, 23 de julho de 2025 – O
presidente da França, Emmanuel Macron,
e sua esposa, Brigitte Macron,
formalizaram nesta semana uma ação judicial
por difamação contra a influenciadora digital norte-americana Candace Owens, após esta ter promovido
repetidamente a falsa alegação de que Brigitte teria nascido homem. A ação foi
registrada na Superior Court do estado de
Delaware, nos Estados Unidos, e inclui 218 páginas com 22 acusações formais, entre elas
difamação, invasão de privacidade, má-fé intencional e distorção da verdade.
Com a crescente
disseminação de rumores nas redes sociais, principalmente por meio de vídeos no
YouTube, podcasts e postagens no X (antigo Twitter), o casal decidiu agir de
forma inédita: levar um caso de ataque
pessoal e desinformação contra um chefe de Estado em exercício à justiça
americana.
Série “Becoming Brigitte” impulsionou boato
antigo
No centro da
polêmica está a série digital “Becoming
Brigitte”, produzida e publicada por Candace Owens, uma das
influenciadoras conservadoras mais populares e polarizadoras dos EUA. Em oito
episódios publicados entre maio e junho, Owens sustenta que Brigitte Macron
teria nascido como Jean-Michel Trogneux
— nome verdadeiro do irmão da primeira-dama — e teria cometido "fraude de
identidade" e até "incesto" ao se casar com Macron. Ela chega a
alegar que o presidente francês seria resultado de um experimento da CIA, numa
teoria conspiratória que mistura elementos do projeto MK-Ultra, espionagem e
distorções sobre o passado do casal.
A série já
ultrapassou 2,3 milhões de visualizações apenas no YouTube e se tornou um dos
conteúdos mais replicados entre grupos extremistas e fóruns conspiratórios
internacionais.
Macron e Brigitte reagem com processo histórico
Em vez de lidar com
os rumores apenas dentro da jurisdição francesa, como fizeram em 2022, quando
Brigitte processou e venceu duas mulheres por espalharem a mesma teoria, os
Macron decidiram elevar o tom e mover a ação no país onde a desinformação mais
se expandiu: os Estados Unidos.
“Chegamos a um limite onde o silêncio deixou de
ser prudente e se tornou cúmplice. Não estamos defendendo apenas nossa honra,
mas a verdade como princípio civilizacional”, declarou o presidente
francês a um jornal local antes da abertura formal do processo.
A defesa, liderada
pelos renomados escritórios Clare Locke
LLP e Farnan LLP, acusa
Owens de agir com “má-fé real” (actual
malice) — conceito jurídico essencial para que figuras públicas vençam
processos de difamação nos EUA. Eles alegam que a influenciadora foi notificada
diversas vezes sobre a falsidade das informações, mas “optou deliberadamente por ignorar os fatos para lucrar com o
escândalo”.
Candace Owens desafia os Macron
Em resposta
pública, Candace Owens ironizou a decisão do casal presidencial: “Nunca imaginei que o presidente de uma nação
democrática se sentiria ameaçado por uma cidadã americana com uma câmera e um
microfone”, disse em vídeo publicado nesta terça-feira. “Isso não é sobre verdade — é sobre controle e
censura.”
Owens, que tem mais
de 5 milhões de seguidores em suas plataformas, afirma que continuará abordando
o tema e se diz confiante de que será protegida pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante a
liberdade de expressão.
Um caso raro e com repercussão internacional
Casos como esse são
raríssimos: é incomum que chefes de Estado processem indivíduos estrangeiros
por difamação em outro país. A escolha do estado de Delaware também não foi aleatória — é lá onde estão
registradas muitas empresas e meios digitais dos quais Owens se beneficia
financeiramente, o que facilita o processo de responsabilização.
De acordo com os
advogados dos Macron, o processo não busca apenas uma indenização financeira —
que pode ser milionária, segundo
estimativas —, mas também a remoção dos
conteúdos caluniosos, a retratação
pública da influenciadora e um pedido
formal de desculpas.
“Estamos diante de
um caso emblemático que coloca à prova os limites entre liberdade de expressão
e campanha de desinformação organizada”, afirmou o advogado Tom Clare,
especialista em casos de reputação e difamação.
Reações na França e no mundo
Na França, o caso
gerou reações divididas. Se por um lado muitos consideram legítima a ação do
casal Macron diante de ataques profundamente misóginos e transfóbicos, outros
questionam se a resposta judicial poderia alimentar ainda mais a repercussão
das teorias conspiratórias.
Feministas e
defensores de direitos civis manifestaram apoio à primeira-dama. Para a
ativista Clara Brunet, “tratar como piada
ou fofoca uma campanha organizada para desumanizar uma mulher pública é
normalizar a violência simbólica”.
Já na comunidade internacional, juristas acompanham o caso com atenção. “Esse processo pode abrir precedente para líderes públicos em todo o mundo enfrentarem legalmente a máquina da desinformação transnacional”, avalia o analista político americano David Lerman.
O que vem a seguir?
O caso agora
seguirá para as fases iniciais da justiça civil americana. O casal Macron
poderá ser convocado a depor, assim como Candace Owens, seus produtores e
empresas vinculadas à monetização dos vídeos. O julgamento por júri popular é uma possibilidade, o que
pode gerar ainda mais repercussão internacional.
Se vencerem o
processo, Emmanuel e Brigitte Macron poderão estabelecer um precedente jurídico global no combate à
desinformação envolvendo figuras públicas e plataformas digitais.