Negociações comerciais EUA-China revelam disputa
tecnológica crescente
Washington intensifica controle sobre exportações para
conter avanço tecnológico chinês
12 de junho de 2025 | Redação do Portal Mundo Atual
As negociações comerciais entre os Estados Unidos e a China,
que se desenrolam desde o início da década passada, voltaram ao centro do
debate internacional. Embora envolvam tarifas de importação e acordos
comerciais bilaterais, o cerne da disputa cada vez mais se concentra em uma
corrida tecnológica. Washington vem utilizando, de forma estratégica, o
controle de exportações para tentar frear o crescimento da China em setores de
alta tecnologia, como semicondutores, inteligência artificial e comunicações
5G.
Controle de exportações como ferramenta geopolítica
Desde 2010, os Estados Unidos adotaram medidas para impedir
que empresas chinesas tivessem acesso a tecnologias consideradas sensíveis. O
Departamento de Comércio americano colocou dezenas de empresas da China em
listas restritivas, impedindo-as de adquirir componentes avançados de empresas
americanas. Entre os alvos está a gigante de telecomunicações Huawei, que desde
2019 enfrenta embargos que limitam seu acesso a chips e software de ponta.
Recentemente, o governo americano expandiu essas medidas,
restringindo a exportação de chips de inteligência artificial, máquinas de
litografia para fabricação de semicondutores e softwares de design de
circuitos. A justificativa oficial é a segurança nacional, mas especialistas
apontam que a intenção é conter o avanço da China como potência tecnológica
global.
Essas restrições vão além da segurança militar. Elas afetam diretamente
a competitividade das empresas chinesas em setores civis, como automação
industrial, robótica, saúde digital e veículos autônomos. Ao limitar o acesso
chinês a ferramentas essenciais, os EUA tentam manter sua liderança global na
próxima geração de inovação.
Reação da China e busca por autossuficiência
Em resposta, o governo chinês vem investindo massivamente em
pesquisa e desenvolvimento, além de estimular a criação de uma cadeia de
suprimentos independente para o setor tecnológico. O plano "Made in China
2025" visa transformar o país em líder mundial em vários setores
estratégicos, reduzindo a dependência de insumos estrangeiros.
Universidades, institutos de pesquisa e grandes corporações
chinesas estão sendo financiadas com apoio estatal para desenvolver tecnologias
próprias. Empresas como SMIC (Semiconductor Manufacturing International
Corporation) estão tentando acelerar a produção de chips de 7nm e competir com
gigantes como TSMC e Intel.
A China também tem ampliado parcerias com países do Sul
Global e incentivado o uso de suas tecnologias em mercados emergentes, numa
clara tentativa de expandir sua influência tecnológica internacional. Além
disso, Pequim tem promovido sua própria arquitetura de internet e padrões de
segurança digital como alternativas às tecnologias ocidentais.
Consequências para o mercado global
A disputa tem gerado tensões comerciais, afetando cadeias de
suprimento globais e criando incertezas em setores como eletrônicos, automotivo
e telecomunicações. Multinacionais que operam entre os dois países enfrentam
desafios logísticos e regulatórios cada vez maiores.
Fabricantes de chips, fornecedores de matérias-primas,
empresas de software e startups de inovação têm sido obrigadas a rever suas
estratégias. O aumento da demanda por semicondutores locais também aqueceu o
mercado de chips em países como Taiwan, Coreia do Sul e Japão.
Investidores acompanham com atenção as negociações
bilaterais, com receio de que uma escalada da disputa possa gerar impactos
negativos sobre os mercados financeiros e a economia mundial. Os efeitos também
chegam aos consumidores, com encarecimento de produtos eletrônicos e adiamento
de lançamentos devido à escassez de componentes.
Guerra fria tecnológica: o novo front
Muitos analistas comparam o momento atual com uma nova
Guerra Fria, desta vez travada no campo da tecnologia. Em vez de arsenais
nucleares, a competição se dá em supercomputadores, algoritmos de IA,
plataformas de dados e infraestrutura digital. As potências querem não apenas
dominar essas áreas, mas também ditar os padrões e regras do jogo para o
restante do mundo.
A disputa também está moldando alianças estratégicas.
Enquanto os EUA fortalecem sua cooperação com a União Europeia, Japão,
Austrália e Índia, a China intensifica sua presença na Ásia, África e América
Latina. Esses blocos disputam o fornecimento de minerais críticos,
investimentos em redes 5G, sistemas de pagamentos digitais e regulação de
dados.
Expectativas futuras e caminhos possíveis
Analistas internacionais apontam que, mesmo com eventuais
acordos comerciais, a disputa tecnológica entre EUA e China tende a se
intensificar nos próximos anos. A supremacia em setores como IA, computação
quântica e biotecnologia será decisiva para definir quem liderará a próxima
revolução industrial.
Nesse contexto, está em jogo muito mais do que lucro ou
tarifas. Trata-se de um reposicionamento de poder e influência global. Há
também preocupações crescentes quanto à fragmentação da internet, com riscos de
se criar uma "internet chinesa" e uma "internet ocidental",
cada qual com regras, firewalls e ecossistemas distintos.
O cenário atual exige equilíbrio diplomático e estratégico,
para que a rivalidade entre as duas maiores economias do mundo não comprometa a
estabilidade econômica e o progresso tecnológico global. Organismos
multilaterais, como a OMC e o G20, podem desempenhar um papel vital para mediar
interesses e propor diretrizes comuns para o uso de tecnologias emergentes.