Governo Trump encerra status humanitário de 530 mil imigrantes
Em uma decisão que abalou centenas de milhares de lares nos Estados Unidos, o governo liderado por Donald Trump anunciou oficialmente o fim do Status de Proteção Temporária (TPS) para aproximadamente 530 mil imigrantes. O anúncio, feito pelo Departamento de Segurança Interna (DHS), não apenas encerrou um programa de décadas como também lançou famílias inteiras em um estado de profunda incerteza.
Criado em 1990, o TPS foi, durante décadas, um amparo legal e humanitário para estrangeiros oriundos de países devastados por guerras, desastres naturais ou crises políticas. Mais do que um documento, o TPS foi sinônimo de segurança, estabilidade e esperança para homens e mulheres que, com esforço silencioso, reconstruíram suas vidas nos Estados Unidos enquanto aguardavam condições dignas para retornar aos seus países de origem.
Uma ruptura com histórias de vida
Para quem vê de fora, 530 mil pode parecer apenas um número. Mas, por trás dele, há histórias reais: mães que trabalham como cuidadoras de idosos, pais que construíram casas em bairros que antes nem existiam, jovens que sonham em cursar a universidade e crianças que conhecem apenas um país: os Estados Unidos. Muitos desses imigrantes vivem no país há mais de 20 anos, criaram laços profundos com suas comunidades e têm filhos norte-americanos que frequentam escolas locais.
O governo Trump justificou a revogação do TPS afirmando que os países de origem desses imigrantes “já se recuperaram” das crises que motivaram o benefício. No entanto, organizações internacionais e analistas discordam. El Salvador, por exemplo, ainda enfrenta altos índices de violência. O Haiti continua lidando com os efeitos de catástrofes e instabilidade política. O Sudão e o Nepal seguem entre os países mais frágeis do mundo, de acordo com relatórios da ONU.
Impacto direto na vida de famílias
A maior parte dos beneficiários do TPS ocupa postos de trabalho essenciais, especialmente em setores como agricultura, construção, hospitalidade e saúde. São profissionais que mantêm o país funcionando, mesmo durante pandemias, furacões ou crises econômicas. Estudo da Universidade George Washington calcula que a exclusão dessas pessoas pode causar uma perda de até US$ 45 bilhões ao PIB americano em dez anos.
Além disso, cerca de 275 mil crianças norte-americanas são filhas de beneficiários do TPS. Elas podem ser separadas de seus pais, crescendo sem seus cuidadores primários ou sendo forçadas a acompanhar a família em um retorno a países onde não falam o idioma e não têm qualquer referência cultural.
O medo do amanhã
A notícia caiu como um balde de água fria entre os imigrantes. Muitos relatam noites sem dormir, medo de sair às ruas e uma angústia que cresce a cada nova declaração política. Em Los Angeles, uma mãe salvadorenha de três filhos, todos nascidos nos EUA, declarou: “Eu só quero continuar cuidando da minha família e trabalhando. Não quero me esconder. Sou uma cidadã de coração, mesmo que não no papel.”
A incerteza jurídica também pesa. Enquanto ações judiciais tentam reverter a medida em tribunais federais, organizações como a ACLU e a National Immigration Forum oferecem apoio legal gratuito, orientação e amparo emocional. Campanhas nas redes sociais e manifestações públicas se multiplicam em várias cidades do país.
Um apelo à consciência nacional
Apesar de a decisão ter respaldo legal, críticos afirmam que ela carece de humanidade. “Esta não é apenas uma questão de imigração. É uma questão de valores. De que tipo de país queremos ser”, disse um congressista democrata em pronunciamento recente. Cidades como Nova Iorque, San Francisco e Chicago já se posicionaram oficialmente em apoio à permanência dos beneficiários do TPS, criando frentes legislativas de defesa.
Em meio à crise, a esperança se mantém viva na luta de comunidades, organizações civis, líderes religiosos e cidadãos que se recusam a aceitar a ideia de que pessoas que ajudaram a construir a América de hoje sejam tratadas como descartáveis.