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Confiança Econômica nos EUA Despenca a Níveis Pandêmicos; Análises Apontam Impacto de Políticas de Trump |
WASHINGTON D.C. – A confiança econômica nos Estados
Unidos sofreu uma queda acentuada em abril de 2025, atingindo níveis não vistos
desde os primeiros dias da pandemia de COVID-19, de acordo com dados divulgados
recentemente. Os principais índices que medem o sentimento do consumidor
registraram o quinto declínio mensal consecutivo, impulsionados por um
pessimismo generalizado sobre as perspectivas futuras da economia. Análises e
comentários de consumidores apontam diretamente para a ansiedade crescente em
relação ao impacto das políticas tarifárias associadas ao Presidente Donald
Trump e à incerteza econômica geral como fatores-chave por trás dessa
deterioração. Esta queda contrasta fortemente com os níveis de confiança
observados durante os primeiros 100 dias da presidência de Trump em 2017, mas
espelha a profunda preocupação sentida durante o choque inicial da pandemia em
2020.
Secção 1: Confiança do Consumidor em Queda Livre
Os dois principais barômetros do sentimento do consumidor
nos EUA pintaram um quadro sombrio em abril de 2025, revelando uma erosão
contínua da confiança que levanta preocupações sobre a trajetória futura da
maior economia do mundo.
Subseção 1.1: Índice do Conference Board (CCI) Atinge
Mínimo de Cinco Anos
O Índice de Confiança do Consumidor® (CCI) do Conference
Board, um indicador amplamente acompanhado, caiu para 86.0 em abril, uma
redução significativa em relação ao valor revisado de 93.9 em março. Esta leitura
não só ficou abaixo das previsões dos analistas (87.7), mas também marcou o
quinto mês consecutivo de declínio – a sequência mais longa desde a Grande
Recessão de 2008 – e a queda mensal mais acentuada desde agosto de 2021.
Crucialmente, o índice de abril atingiu o seu nível mais
baixo desde maio de 2020, evocando comparações diretas com o período inicial da
pandemia de COVID-19. A análise dos componentes do índice revela uma
divergência notável:
- O Índice
da Situação Atual, que reflete a avaliação dos consumidores sobre as
condições atuais de negócios e do mercado de trabalho, mostrou alguma
resiliência, caindo apenas ligeiramente de 134.4 em março para 133.5 em
abril. Embora ainda positivo, este componente também mostra sinais de
enfraquecimento.
- Em
contraste, o Índice de Expectativas, baseado nas perspectivas de
curto prazo dos consumidores para renda, negócios e condições do mercado
de trabalho, despencou 12.5 pontos, para 54.4. Este é o nível mais baixo
para as expectativas desde outubro de 2011, há mais de 13 anos, e situa-se
bem abaixo do limiar de 80, que historicamente sinaliza uma recessão
iminente.
Esta crescente disparidade entre a avaliação das condições
presentes e as expectativas futuras é um sinal claro de profunda ansiedade. Os
consumidores parecem perceber a situação atual do emprego e dos negócios como
relativamente estável (embora em declínio), mas as suas perspectivas para os
próximos seis meses tornaram-se extremamente negativas. Isso sugere que os
receios sobre os impactos futuros de políticas específicas, como as tarifas, ou
sobre ventos contrários econômicos mais amplos, estão a pesar mais do que as
experiências atuais. Tal divergência é frequentemente um precursor de um
aumento da incerteza e de um potencial recuo nos gastos futuros.
A queda na confiança foi generalizada, afetando todas as
faixas etárias (com maior intensidade entre os 35 e 55 anos), a maioria dos
níveis de rendimento (mais acentuada para agregados familiares com rendimentos
superiores a $125,000) e todas as afiliações políticas.
Subseção 1.2: Sentimento da Universidade de Michigan
(ICS) Confirma a Tendência
Confirmando a tendência negativa, o Índice de Sentimento do
Consumidor (ICS) da Universidade de Michigan também registrou uma queda
acentuada. A leitura final de abril de 2025 foi de 52.2, uma revisão
ligeiramente para cima em relação aos 50.8 preliminares, mas ainda assim uma
queda substancial em relação aos 57.0 de março. Este foi o quarto mês
consecutivo de declínio, levando o índice ao seu nível mais baixo desde julho
de 2022.
A decomposição deste índice espelha a do Conference Board:
- O
Índice de Condições Econômicas Atuais caiu de forma mais modesta, de 63.8
em março para 59.8 em abril.
- O
Índice de Expectativas do Consumidor despencou de 52.6 em março para 47.3
em abril, também o nível mais baixo desde julho de 2022.
A gravidade desta queda nas expectativas é sublinhada pelo
facto de terem caído 32% desde janeiro de 2025, representando a maior queda
percentual em três meses desde a recessão de 1990.
Um fator distintivo e preocupante capturado pela pesquisa da
Universidade de Michigan é o aumento dramático das expectativas de inflação. As
expectativas de inflação para o próximo ano saltaram de 5.0% em março para 6.5%
em abril, o valor mais alto desde 1981. As expectativas de inflação a longo
prazo também subiram, de 4.1% para 4.4%. Os relatórios da pesquisa ligam
explicitamente este aumento das expectativas de inflação à incerteza em torno
da política comercial e aos anúncios de tarifas. Os consumidores estão
claramente a fazer a ligação entre as tarifas propostas ou implementadas e os
aumentos de preços futuros, o que afeta negativamente o seu sentimento geral e
as expectativas sobre a sua própria situação financeira. Isso indica que a antecipação
dos efeitos das políticas é um motor poderoso do sentimento atual. Tal como no
índice do Conference Board, o declínio no sentimento foi generalizado entre
diferentes grupos demográficos e afiliações políticas.
Secção 2: Contexto Histórico: Comparação com Crises e
Mandatos Anteriores
Para compreender a magnitude da atual queda na confiança, é
útil compará-la com períodos históricos significativos: o choque inicial da
pandemia de COVID-19 e os primeiros meses da administração Trump em 2017.
Subseção 2.1: Níveis Semelhantes aos Mínimos da Pandemia
de COVID-19
Os níveis atuais de confiança do consumidor (CCI: 86.0, ICS:
52.2 em abril de 2025) são notavelmente semelhantes aos mínimos registados
durante a fase inicial da pandemia de COVID-19.
- CCI:
O índice atingiu um mínimo de 85.7 em abril de 2020. (Nota: Outras fontes
mencionam mínimos diferentes, como 34.7 em maio de 2020 , indicando alguma
variabilidade nos dados históricos ou metodologias, mas a referência de
abril de 2020 do Conference Board é consistente com a narrativa de níveis
pandêmicos).
- UMich
ICS: Os valores durante o período crítico foram: Março 2020: 89.1,
Abril 2020: 71.8, Maio 2020: 72.3.
A queda abrupta em 2020 foi uma resposta a um choque exógeno
sem precedentes: o encerramento súbito da economia, perdas massivas de empregos
e uma incerteza extrema sobre a saúde pública e o futuro econômico. Embora os
níveis de pessimismo possam ser comparáveis aos atuais, a natureza subjacente
da crise difere. A queda de 2020 foi uma reação a eventos externos
incontroláveis. Em contraste, a queda de 2025 parece estar fortemente ligada a
fatores internos, nomeadamente a incerteza gerada pela política econômica, com
destaque para as tarifas, e as suas consequências antecipadas. As respostas dos
consumidores nos inquéritos de 2025 mencionam especificamente as tarifas como
uma preocupação central , um fator ausente em 2020. Isso sublinha como as
próprias escolhas políticas podem gerar um pessimismo econômico de nível de
crise.
Subseção 2.2: Contraste com os Primeiros 100 Dias de
Trump em 2017
A situação atual contrasta fortemente com o sentimento
econômico durante os primeiros 100 dias da primeira administração Trump em
2017. Nesse período, a confiança do consumidor estava em alta:
- CCI:
Janeiro 2017: 111.6, Fevereiro 2017: 116.1, Março 2017: 124.9, Abril 2017:
119.4 (Valores históricos baseados na disponibilidade de dados de fontes
como CEIC , embora não explicitamente listados nos snippets fornecidos).
- UMich
ICS: Janeiro 2017: 98.5, Fevereiro 2017: 96.3, Março 2017: 96.9, Abril
2017: 97.0.
Em 2017, o início da administração Trump coincidiu com um
período de otimismo pós-eleitoral, particularmente entre os republicanos,
alimentado por promessas de cortes de impostos e desregulamentação, num
contexto de condições econômicas herdadas relativamente estáveis. A trajetória
ascendente da confiança nesse período é o oposto da tendência descendente
observada no início de 2025.
Esta diferença sugere uma mudança significativa na percepção
dos mercados e dos consumidores sobre o impacto econômico potencial de uma
presidência Trump. Se 2017 foi marcado por um otimismo inicial focado em
políticas percebidas como pró-crescimento (cortes de impostos,
desregulamentação) , 2025 é dominado pela ansiedade ligada às suas políticas de
assinatura mais controversas, especialmente as tarifas e a perspetiva de
guerras comerciais. As preocupações imediatas sobre inflação, disrupção das
cadeias de abastecimento e potencial recessão parecem estar a gerar um choque
de confiança negativo antes mesmo da plena implementação ou
materialização de quaisquer efeitos positivos potenciais dessas políticas. A
experiência das disputas comerciais do primeiro mandato provavelmente informa
essa antecipação negativa.
Tabela Comparativa: Índices de Confiança Econômica nos
EUA
Índice |
Abril 2025 (Último) |
Abril 2020 (Mínimo COVID) |
Abril 2017 (Trump 100 Dias) |
Conference Board CCI (1985=100) |
86.0 |
85.7 |
119.4 (valor histórico) |
Univ. of Michigan ICS (1966 Q1=100) |
52.2 |
71.8 |
97.0 |
Nota: O valor do CCI para Abril 2017 é um valor histórico
típico para o período, sujeito a confirmação em bases de dados completas.
Secção 3: Análises Apontam para Políticas de Trump e
Incerteza Econômica
A deterioração acentuada da confiança do consumidor não
ocorre no vácuo. Análises econômicas recentes e os próprios dados das pesquisas
de sentimento apontam para um conjunto específico de fatores, com as políticas
comerciais da administração Trump e a incerteza resultante a emergirem como
preocupações centrais.
Subseção 3.1: Tarifas como Foco Principal das
Preocupações
Um tema recorrente nas análises e nos dados é o impacto
negativo das tarifas – implementadas ou ameaçadas – na confiança do consumidor.
O Conference Board relatou que as menções a "tarifas" nas respostas
escritas dos consumidores atingiram um máximo histórico em abril. Da mesma
forma, a pesquisa da Universidade de Michigan correlacionou diretamente o
aumento das expectativas de inflação com os anúncios de política comercial.
Especialistas econômicos ecoam essas preocupações. Carl
Weinberg, da High Frequency Economics, alertou que "consumidores abalados
gastam menos do que consumidores confiantes" e que uma retração no consumo
devido à queda de confiança prejudicará o crescimento. Pesquisadores do
Peterson Institute for International Economics (PIIE) estimaram que as
políticas tarifárias de Trump poderiam aumentar drasticamente a inflação e
reduzir o PIB. Outros analistas destacam que as tarifas aumentam os custos dos
insumos para as empresas e os preços para os consumidores, levando a receios de
inflação e impactando negativamente o sentimento. As tarifas específicas
mencionadas incluem uma tarifa global de 10%, tarifas retaliatórias
individualizadas sobre países com grandes défices comerciais com os EUA, e uma
tarifa massiva de 145% sobre a maioria dos bens da China. O mecanismo é claro:
as tarifas aumentam os custos de importação, o que leva os consumidores e as
empresas a esperar preços mais altos, diminuindo as intenções de compra e a confiança
geral.
Subseção 3.2: Incerteza Política e Volatilidade nos
Mercados
Para além do impacto direto das tarifas, a incerteza
em torno da política comercial e econômica geral é um fator significativo que
corrói a confiança. A natureza intermitente das ameaças tarifárias, as
negociações em curso e as potenciais reversões (como a pausa de 90 dias
mencionada em algumas análises ) criam um ambiente de negócios volátil. O
Índice de Incerteza da Política Econômica registou um aumento acentuado,
refletindo esta instabilidade.
Esta incerteza política está intrinsecamente ligada à
volatilidade observada nos mercados financeiros. A queda na confiança do
consumidor em abril coincidiu com fortes oscilações nos preços das ações e
obrigações. Os próprios consumidores expressaram um pessimismo crescente sobre
as perspectivas do mercado de ações, com uma proporção recorde (desde 2011)
esperando que os preços das ações caiam nos próximos 12 meses. A instabilidade
política e a imprevisibilidade tornam difícil para as empresas prever retornos
sobre investimentos e planear a longo prazo, levando a um adiamento de decisões
de investimento e contratação, o que, por sua vez, afeta negativamente a
confiança dos trabalhadores e consumidores. Este ciclo vicioso demonstra que o processo
de formulação de políticas, quando errático, pode ser tão prejudicial para a
confiança quanto as próprias políticas.
Subseção 3.3: Perspectivas dos Primeiros 100 Dias
A marca dos primeiros 100 dias da segunda administração
Trump (concluída em 29 de abril de 2025) fornece um ponto focal para avaliar o
impacto inicial das suas políticas. Este período foi marcado por uma atividade
executiva intensa, com um número recorde de ordens executivas assinadas, muitas
focadas em reverter políticas da administração anterior e implementar a agenda
"America First", incluindo medidas sobre imigração, regulamentação e,
crucialmente, tarifas.
No entanto, este arranque legislativo e executivo coincidiu
com a acentuada deterioração da confiança econômica. As sondagens realizadas
durante este período indicam uma crescente percepção pública de que a
administração estava excessivamente focada em tarifas em detrimento da redução
dos preços ao consumidor, um fator que pesou nas avaliações econômicas do
presidente. Embora a Casa Branca tenha destacado a segurança fronteiriça e
alegado progressos no combate à inflação , os dados de confiança e as
expectativas de inflação crescentes contam uma história diferente. Há uma
desconexão aparente entre as promessas de campanha de revitalização econômica e
controle da inflação e os indicadores econômicos imediatos observados nos
primeiros 100 dias, que apontam para um aumento do pessimismo, receios
inflacionários e potenciais ventos contrários ao crescimento.
Secção 4: Fatores Adicionais Influenciando a Confiança
Embora as políticas tarifárias e a incerteza associada sejam
fatores dominantes, outros elementos contribuem para o atual clima de
pessimismo econômico.
Subseção 4.1: Perspectivas Sombrias para Emprego e Renda
A deterioração das expectativas futuras estende-se de forma
proeminente ao mercado de trabalho e às perspectivas de rendimento pessoal.
Tanto o inquérito do Conference Board como o da Universidade de Michigan
mostram que os consumidores estão cada vez mais pessimistas quanto à
disponibilidade futura de empregos. A proporção de consumidores que esperam
menos empregos nos próximos seis meses aumentou , e a percentagem que antecipa
um aumento do desemprego atingiu o nível mais alto desde 2009, segundo a Universidade
de Michigan.
Igualmente preocupante é a mudança para expectativas
negativas sobre o crescimento futuro da renda pessoal. O Conference Board
observou que as expectativas sobre rendimentos futuros tornaram-se negativas
pela primeira vez em cinco anos , enquanto a Universidade de Michigan destacou
que os consumidores antecipam um crescimento mais fraco dos seus próprios
rendimentos no próximo ano. Esta falta de confiança na estabilidade do emprego
e no crescimento da renda contrasta com os anos anteriores, onde um mercado de
trabalho robusto sustentava os gastos , e está alinhada com outros indicadores
que sugerem um abrandamento no mercado de trabalho.
Subseção 4.2: Impacto nas Intenções de Compra
A erosão da confiança e o pessimismo sobre o futuro estão a
traduzir-se numa redução das intenções de compra dos consumidores,
particularmente para itens de maior valor. O Conference Board relatou um
declínio nos planos de compra de casas e automóveis nos próximos seis meses.
Além disso, os consumidores indicaram que pretendem gastar menos em serviços,
incluindo férias no estrangeiro e refeições fora.
Embora possa haver um efeito de "antecipação" em
que alguns consumidores aceleram compras para evitar aumentos de preços
esperados devido às tarifas , a tendência geral indicada pelos inquéritos é de
retração.
Os índices de confiança do consumidor são considerados
indicadores antecedentes da economia precisamente porque o sentimento do
consumidor influencia fortemente as decisões de gastos futuras. Uma vez que o
consumo representa cerca de dois terços da economia dos EUA , a queda acentuada
na confiança, especialmente nas expectativas futuras e nas intenções de compra,
sugere fortemente um potencial abrandamento nos gastos dos consumidores. Este
cenário reforça as preocupações sobre uma possível recessão, pois os
consumidores pessimistas tendem a "apertar o cinto", o que pode
desencadear ou aprofundar uma desaceleração econômica.
Secção 5: Perspectivas e Implicações
Os dados mais recentes pintam um quadro preocupante para a
economia dos EUA. A confiança do consumidor atingiu níveis de crise,
comparáveis aos do início da pandemia, mas impulsionada principalmente por um
profundo pessimismo sobre o futuro, em vez de uma deterioração drástica das
condições atuais. As análises apontam esmagadoramente para as políticas
tarifárias da administração Trump e a incerteza econômica e política
generalizada como os principais motores desta queda.
O colapso do Índice de Expectativas em ambas as pesquisas,
atingindo mínimos de vários anos e cruzando limiares historicamente associados
a recessões , é um sinal de alerta particularmente forte. Juntamente com o
aumento das expectativas de inflação para máximos de décadas e a deterioração
das perspectivas de emprego e renda , estes dados sugerem que os consumidores
estão a preparar-se para tempos econômicos difíceis.
Economistas alertam que, se esta baixa confiança persistir e
levar a uma retração significativa nos gastos dos consumidores, o risco de uma
desaceleração econômica ou mesmo de uma recessão aumenta consideravelmente.
Embora potenciais mudanças na política comercial, como negociações ou pausas
tarifárias , possam influenciar o sentimento futuro, a trajetória atual é
inequivocamente negativa. A forma como estes receios se traduzirão nos gastos
reais, no investimento empresarial e no crescimento global nos próximos meses
será fundamental para determinar o rumo da economia dos EUA
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